quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

A ORGANIZAÇÃO COMO UM FENÔMENO SOCIALMENTE CONSTRUÍDO


Resumo


Onde quer que estejamos, qualquer que seja o momento da nossa vida, estamos sempre nos deparando com o fato de pertencermos a unidades ou coletivos sociais, de diferentes portes. Ou seja, nunca estamos sozinhos, isolados ou fora de alguma rede social.
Compreender como interagem ou que processos articulam ou não, pessoas e coletividades que chamamos de grupos, equipes e organizações, é, certamente, um dos principais desafios dos Estudos Organizacionais. Embora sejam múltiplas as definições e diferenciadas as ênfases, qualquer tentativa de se conceituar organização incorpora a ideia de um agrupamento social ou a de indivíduos em interação. Organizações, assim, são criações ou ferramentas sociais, produtos de ações individuais e coletivas; sua dinâmica e seus processos entrelaçam-se com processos e dinâmicas de indivíduos e de grupos em um espaço e tempo que delimitam e circunscrevem suas interações.
Tal fato é que torna tão central a questão sobre até que ponto o eu, o self, meu comportamento, minhas atitudes, meus valores, minha forma de ser, de sentir, de perceber o mundo, minha personalidade são determinadas ou não por estes coletivos maiores em que me insiro. Tal questão traz, acoplada, o outro lado da polaridade: até que ponto as características, o funcionamento, a estrutura, as normas, os valores dessas coletividades maiores em que me insiro são produtos daquilo que eu sou, penso e e ajo.
As organizações são vistas como construções sociais, como significados intersubjetivamente partilhados. A passagem do plano individual para o coletivo ocorre porque pensamentos e ações das pessoas vão se tornando determinados por produtos de pensamentos e ações que vão se tornando compartilhados coletivamente. Assim, os processos que unem e desunem pessoas e grupos é que geram o fenômeno organizativo.
Esta perspectiva exige, portanto, que seja dada atenção especial às interações humanas,  e como as inter-relações são construídas e reconstruídas pelos indivíduos. Em síntese, a preocupação com os processos de organizar implica assumir que o comportamento social está na base da própria gênese da organização e é crítico na determinação de seus resultados. As práticas de interação social configuram um sistema de atividades no qual os atores contribuem para a sua criação, manutenção, ao mesmo tempo em que seu comportamento se subordina ao padrão de relações estabelecido. A organização deixa de ser vista como algo estático, como uma entidade racionalmente estruturada.
A ordem é imposta sobre condições de interesses divergentes, competição nas carreiras, rotatividade, definições mutantes do self, sendo que recursos incertos são instáveis e precisam ser continuamente restabelecidos. A reestruturação do significado de 'organização' tem, como  não poderia deixar de ser, impacto sobre a forma como vários outros fenômenos organizacionais são compreendidos, investigados e gerenciados. Possivelmente não há um só conceito no campo dos estudos organizacionais que tenha sido revisto, reinterpretado e re-analisado à luz desta nova perspectiva. Essas mudanças coincidem com as transformações que estão reconfigurando o mundo do trabalho, as arquiteturas organizacionais e os modelos de gestão.
Os fenômenos psicológicos desencadeados pelas interações entre as pessoas podem ser identificados em muitos contextos: familiares, amigos, colegas de trabalho, prestadores de serviços e tantas outras pessoas fazem parte direta do nosso cotidiano.
As organizações são sistemas que incluem variados níveis, procedimentos e tecnologias, mas são sistemas sociais, acima de tudo. Compreendê-Ias requer analisar as complexas interações que ocorrem nós múltiplos níveis interligados aos seus subsistemas e os sistemas de seu entorno. De outra maneira, revelam uma enredada interação entre o social, o cultural e o psicológico na construção da realidade.
As interações humanas estão na base das configurações que se estabelecem, difundem-se e acabam, muitas vezes, caracterizadas sob o rótulo específico de "estilo de gestão".
        As abordagens culturalistas,  estão na Antropologia, focalizam os elementos simbólicos, os sistemas de significados compartilhados e os esquemas interpretativos, entre outros aspectos, considerados essenciais à compreensão da realidade social nessas organizações.
Também agregando contribuições da Psicologia e da Sociologia entre outras áreas de conhecimento, as organizações de trabalho são percebidas como realidades socialmente construídas. A definição da visão, missão, objetivos, valores, estrutura organizacional, políticas, normas, cargos e o estabelecimento de procedimentos operacionais padronizados são entendidos como funções interpretativas e, portanto, existentes muito mais na mente dos participantes de cada organização de trabalho do que nos seus elementos formais e objetivos.
Na perspectiva psicossocial, a realidade que se constitui é resultado do compartilhamento que ocorre na interação humana. A realidade da vida cotidiana é apreendida com base em esquemas tipificadores a partir dos quais os outros são  interpretados. Essas tipificações estão na base do processo de interação humana em organizações de trabalhos.
Do ponto de vista individual, o conceito de identidade é elemento chave de compreensão da realidade subjetiva e se encontra em relação dialógica com a sociedades. Identidade pessoal significa o entendimento, o sentimento e a consciência da posse de um eu uma realidade exclusiva que torna cada um de nós distintos dos outros quem nos relacionamos ou não.
A construção social da realidade organizacional – revelada em sua cultura - é produto da estrutura de jogos dos segmentos de poder que compõem tal comunidade.
Visão, missão, objetivos, estratégias e tarefas necessárias ao funcionamento da organização de trabalho são definidos e direcionados com base em valores, crenças, experiências e conhecimentos dos dirigentes. No início, o compartilhamento da visão de mundo do empreendedor ou fundador e de seus principais colaboradores pode ser
incipiente, mas, pelo menos nas áreas sob seu controle direto, conduz o funcionamento organizacional na direção que almejam.
A história da organização é fonte de informações para que se compreenda o presente e o futuro. As interações que se formam nas organizações de trabalho são complexas, dinâmicas e interdependentes. Uma organização não surge desde sua origem, como uma cultura, transforma-se ao longo do tempo, através de sua história, em uma cultura, é socialmente construída. São caracterizadas como sistemas sociais, tem início desde que começam as atividades organizacionais, com regras e políticas, estratégias, dentro do contexto onde está inserida.  É edificada no tempo, influenciada pelo fundador, com base nos valores e crenças são difundidos e fortalecidos pelas coalizões dominantes internas e externas.
A formação de identidade organizacional como individual  é formada pela rede de interação e se desenvolve continuamente. O indivíduo é produto e produtor do sistema.


A Organização Como Um Fenômeno Socialmente construído - IN -ZANELLI, José Carlos. Interação Humana e Gestão: a construção psicossocial das organizações de trabalho. São Paulo. Casa do Psicólogo. 2008.





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